Entrevista com Joakim Kembro (Mestrado em Logística, Lund University)

12 mai 2022

“Automação não está mais reservada para grandes empresas”

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Joakim Kembro, diretor do mestrado em Logística e Supply Chain Management em Lund University

Sobre o especialistaDr. Joakim Kembro é professor associado e diretor do mestrado em Logística e Gerencaimento da Cadeia de Suprimentos em Lund University, Suécia. É membro da Academia Pedagógica da Faculdade de Engenharia e recebeu a distinção de Excellent Teaching Practitioner. Em suas pesquisas destacam a logística e varejo omnichannel, as operações de armazém, troca de tecnologia e informações na cadeia de suprimentos e logística humanitária. Recebeu vários prêmios Emerald por suas contribuições à pesquisa e atualmente é membro do conselho editorial do Journal of Humanitarian Logistics & Supply Chain Management.

Mecalux entrevista Joakim Kembro, professor associado de Lund University (Suécia), para analisar como as últimas tendências em armazenamento estão transformando o mundo da logística.

  • Pesquisa armazenamento há mais de uma década. O que aprendeu durante este período?

    Nos últimos dez anos, o armazenamento passou por uma evolução espetacular. Não é mais possível ignorar sua posição estratégica dentro da cadeia de suprimentos. Os armazéns desempenham um papel crucial no atendimento das demandas dos clientes e na garantia de um processo eficiente de distribuição de mercadoria. As empresas podem obter retornos muito altos quando têm um armazém que atenda às suas necessidades.

  • Como a automação está transformando os armazéns?

    A nova geração de sistemas automáticos equipados com inteligência artificial está mudando as regras do jogo e oferecendo soluções flexíveis que eram impensáveis até pouco tempo atrás. As empresas passaram de questionar se deveriam automatizar para perguntar diretamente como automatizar. Anos atrás, poucas empresas foram pioneiras na automação de seus armazéns. Agora é essencial ter essa tecnologia. As soluções automáticas permitem reduzir os prazos de entrega e produção, minimizar erros e aumentar a flexibilidade.

    Os armazéns desempenham um papel crucial no atendimento da demanda do cliente.
  • Que tipos de empresas podem se beneficiar da automação em seus armazéns?

    A automação costumava ser reservada apenas para grandes empresas, mas nos últimos anos ela se espalhou para empresas de médio porte. O varejo tem sido um dos setores pioneiros em robotizar seus armazéns devido à sua necessidade de encurtar os prazos de entrega e produção. Também estamos testemunhando como a indústria manufatureira, que costumava se concentrar apenas na produção, está considerando automatizar seus armazéns para otimizar as operações.

  • Como o armazenamento mudou ao longo dos anos?

    Há dez anos, toso os armazéns eram muito parecidos. Agora, cada armazém é diferente e se adapta à empresa por trás dele. Como resultado, as várias especializações dentro do armazém também estão mudando. Apesar de ainda existirem áreas com operações manuais, a tecnologia está marcando presença, com soluções à medida das necessidades de cada empresa. Por exemplo, dependendo de cada área ou dos objetivos a serem alcançados, podem ser utilizadas soluções tecnológicas que aprimorem o desempenho e reduzam os prazos de entrega ou sistemas mais flexíveis que permitam o manuseio de produtos de diferentes tamanhos. Também podem ser instaladas soluções que otimizam o espaço, como sistemas de armazenamento que aproveitam a altura do edifício ou estantes sobre bases móveis. O debate sobre tecnologia está na mesa no topo de quase todas as empresas e varejistas.

  • A tecnologia está marcando presença, com soluções à medida das necessidades de cada empresa
    “A tecnologia está marcando presença, com soluções à medida das necessidades de cada empresa.”

    Quais estratégias os varejistas estão utilizando em seus armazéns?

    Tudo começou quando o auge do e-commerce forçou a transformação das operações dos armazéns. De repente, os armazéns foram forçados a abastecer as lojas físicas com grandes pedidos e clientes individuais que só precisavam de um par de sapatos ou duas camisetas. Examinando essa situação, percebemos que cada varejista optou por uma estratégia diferente: enquanto algumas empresas integravam pedidos online e distribuição para lojas físicas no mesmo armazém, outras separavam as duas operações em armazéns diferentes. Vimos também que algumas grandes corporações estavam investindo pesado em automação, enquanto alguns varejistas preferiram recorrer a tecnologias específicas para resolver seus desafios logísticos.

  • Que fatores as empresas devem considerar ao configurar seus armazéns?

    A adaptação da configuração do armazém é mais fácil quando o tamanho da mercadoria e as características dos pedidos são semelhantes. Mas se começar a adicionar variações no tipo de pedidos que recebe, por exemplo, pedidos para lojas e clientes online, terá que investir mais dinheiro na solução que vai implementar. Um padrão semelhante se reproduz com o tamanho da mercadoria: um armazém com produtos de tamanho padronizado pode optar por configurações mais simplificadas. Por outro lado, os varejistas com uma ampla variedade de referências precisarão de uma maior variedade de áreas e métodos de preparação combinados com sistemas automáticos.

  • Como os prazos de entrega curtos influenciam as estratégias do armazém?

    As grandes corporações estão definindo o ritmo. Muitas empresas pensam: "se eles oferecem prazos de entrega em doze horas, nós também temos que oferecer esse prazo". Para reduzir os prazos de entrega, uma tendência crescente em muitos armazéns, chega um ponto em que é necessário fazer concessões. Não é viável continuar reduzindo o tempo de preparação de pedidos enquanto um grande número de pedidos e mercadoria continuam chegando ao armazém. Haverá que analisar as opções disponíveis e procurar soluções. Há vinte anos, muitas empresas centralizaram suas instalações logísticas e optaram por criar economias de escala. Agora vemos que a tendência se inverteu para a descentralização. Por exemplo, algumas empresas com armazéns centrais estão abrindo novos tipos de armazéns perto de seus clientes para cumprir os prazos de entrega.

  • Como um armazém pode ser projetado para ser bem-sucedido?

    Em primeiro lugar, é necessária uma equipe altamente treinada: de um responsável de logística com amplo conhecimento de armazenamento a um responsável de TI que domina a área de automação. Descobrimos que as equipes de armazenamento especializadas estão cada vez mais presentes nas empresas. Em segundo lugar, as empresas devem certificar-se de que possuem o know-how necessário. Pequenas empresas que precisam buscar esse conhecimento externamente, podem fazê-lo com a ajuda de um parceiro para orientá-las. Terceiro, as empresas devem implementar apenas sistemas que se ajustem aos seus negócios. Para ser um bom investimento, a solução escolhida deve atender às suas necessidades. O mundo está mudando rapidamente, mas os armazéns levam tempo para se adaptar às mudanças. O fundamental não é alcançar a precisão absoluta, mas chegue o mais perto possível dela. Por último, mas não menos importante, as empresas devem olhar para o futuro para analisar o quadro geral. E lembre-se de como é transcendental trabalhar sempre em estreita colaboração com todos os atores que compõem a cadeia de suprimentos, pois, tanto o armazém quanto os demais elos da cadeia estão inter-relacionados e influenciam o serviço prestado.